segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Signos Plásticos específicos e não-específicos

Os signos plásticos específicos da representação visual têm um carácter convencional e pertencem a uma realidade criada pelo autor da imagem.
O quadro circunscreve a imagem, separando o mundo da representação (o interior do quadro) do mundo real (o que está fora do quadro). A forma mais frequente de quadro é a rectangular: a fotografia, a página de uma revista, uma pintura, o ecrã de cinema, televisão ou computador. A imprensa e a publicidade muitas vezes tentam ocultar o carácter representativo da imagem, apelando para a emoção de forma a amplificar o campo representado até um espaço mais vasto; tem-se a impressão de que se a imagem fosse maior se veria mais, transformando-se o quadro numa janela que amplifica o nosso campo de visão.
O enquadramento corresponde ao tamanho da imagem, resultado da distância entre o sujeito fotografado e a objectiva. Corresponde ao que em fotografia se designa por escala de planos, desde o plano geral até ao primeiro plano.
A perspectiva da imagem está relacionada com o modo de percepção da realidade por uma determinada cultura. A representação actual fixa o ponto de vista segundo as proporções do corpo humano, considerando que o mais pequeno é o mais distante e o maior o mais próximo. Não existe obrigação de utilizar sempre uma representação em perspectiva. A representação visual pode não ter perspectiva ou ter apenas dois planos, explorando-se então os contrastes entre o difuso e o nítido.
Os signos plásticos não-específicos correspondem a toda a percepção visual que existe dentro duma imagem e permitem a sua conotação com uma mensagem, relacionando-se directamente com experiência perceptiva.
A cor, representada pelas diversas cores do espectro da luz e suas tonalidades, está muito relacionada com o enquadramento histórico-espacial dos indivíduos, pois a percepção da cor é cultural. Por exemplo, o vermelho tem sido associado ao calor, a uma vida ardente e agitada, uma enorme potência ou uma proibição; o azul atrai o homem para o infinito, simboliza o desejo de profundidade e calma - quando escurece aparenta alguma tristeza, mas quando aclara parece longínquo e indiferente como o céu; o verde representa a natureza; o branco a pureza; o negro a elegância, beleza e brilho ou pode ser encarado como algo sombrio, sinal de morte, negativismo.
Quanto à iluminação podemos distinguir entre a iluminação directa e a difusa. Na iluminação directa de uma imagem, uma fonte luminosa hierarquiza a visão guiando-a primeiro para as zonas iluminadas e depois progressivamente para as zonas de sombra e constitui um indicador de leitura; por outro lado uma iluminação difusa permite maior liberdade na análise da imagem e do jogo de cores, implicando cores mais suaves e materiais mais uniformes.
A textura é uma propriedade de superfície como a cor. Existem texturas mais visuais que apelam mais ao táctil do que outras, como por exemplo a oposição entre liso e rugoso, entre pintado e aguado com as suas implicações estéticas.
As linhas e formas também têm o seu significado e assim as curvas estão relacionadas com a sensualidade feminina, as rectas com a virilidade; as formas fechadas ou abertas estão relacionadas com o recolhimento, conforto ou evasão, as quebradas com agressividade, as triangulares ou piramidais relacionadas com o equilíbrio.
A espacialidade das imagens é apreendida segundo três eixos semióticos: o eixo semiótico da verticalidade, com as noções de alto e baixo; o eixo da lateralidade, com a esquerda e a direita; o eixo da frontalidade e do movimento adiante e atrás.

sábado, fevereiro 17, 2007

O Modelo do Grupo µ

Pierce observou o signo segundo uma perspectiva tridimensional. Para ele o signo compõe-se pelo interpretante, representante e objecto; seguindo esta perspectiva tridimensional, cada signo pode ser classificado como imagem, diagrama ou metáfora; por sua vez cada ícone pode ser subclassificado em imagem, diagrama ou metáfora. O ícone segundo Peirce é um signo que mantém com o seu referente uma relação de analogia, semelhança que pode ser visual, auditiva, ou resultante de outra qualidade sensitiva como o paladar ou o olfacto.
“Grosso modo, podemos dividir os hipoícones segundo o modo de primeiridade no qual participam. Os que fazem parte de qualidade simples ou qualidades primeiras, são imagens; os que representam relações, principalmente diádicas, ou consideradas como tais, das partes de uma coisa por relações análogas nas partes que os constituem são os diagramas; os que representam o carácter representativo de um reprersentamen, representando um paralelismo com qualquer coisa de outro, são metáforas” (Peirce, 1978:149).

O Grupo µ relativizou a distância entre o signo icónico e o objecto; a percepção de um objecto produz uma imagem mental, que através de um processo de transformação assumirá uma forma icónica, com linhas, cores e formas. A percepção de um ícone permite pois um processo de reconhecimento e uma associação a uma imagem mental do interpretante, havendo depois uma estabilização ou actualização do referente segundo um processo cognitivo. O conceito de semelhança deu assim lugar ao conceito de reconhecimento. Segundo o Grupo µ, as imagens na realidade têm um signo duplo: uma função de representação, onde entra a percepção tridimensional do objecto (signo icónico) e uma organização de cores e de formas que representam propriedades abstractas (signo plástico).