sábado, março 03, 2007

Gramática da Mensagem Visual



Para Kress e van Leeuwen (1996) assim como as crianças aprendem a ler e a produzir textos verbais, utilizando uma gramática, também é possível aprender a ler os elementos não-verbais de uma mensagem, propondo então uma gramática da mensagem visual, um instrumento útil tanto na construção como na análise de textos em que os significados estão relacionados com elementos visuais que devem ser alvo de interpretação. Os estudos destes dois autores ingleses situam-se no âmbito da semiótica social, uma vez que todos os processos de significação estudados consideram o emissor e receptor com uma envolvência sócio-cultural que é decisiva nas leituras realizadas sobre as diversas mensagens visuais.
Foram identificados três tipos de relações de significação que se podem estabelecer entre os participantes interactivos (emissor e receptor) e os participantes representados numa mensagem visual (actores) - representação, interacção e composição:
a) Na representação visual com uma estrutura narrativa é induzida acção ou movimento através de algo que aponta numa determinada direcção (pode ser uma seta, um braço ou apenas o olhar do actor numa determinada direcção para algo ou até para fora da imagem); a estrutura conceptual refere-se a processos de classificação da realidade como organogramas de empresas ou mapas de fluxos (mapas temáticos), a processos analíticos que surgem quando um determinado actor transporta um determinado número de atributos que devem ser apercebidos pelo receptor como os correctos ou ideais numa determinada situação (moda), ou a processos simbólicos, que estão associados ao valor duma imagem (campanha de vacinação).
b) Quanto à interacção observada entre os participantes interactivos e os participantes representados são considerados por Kress e van Leeuwen quatro aspectos em que o processo comunicativo pode ter diferentes leituras:
- o contacto entre os participantes representados e o leitor: quando um personagem olha olhos nos olhos do leitor temos um pedido ou interpelação; quando o olhar não termina no leitor mas este deseja estar na posição do personagem temos uma oferta
- a distância social, determinada pelo corte utilizado na imagem: se o plano for aberto a distância social que se estabelece entre os participantes é máxima, diminuindo até um plano muito fechado onde a distância social é mínima e o personagem como que aconselha o leitor a tomar uma determinada decisão;
- a atitude está relacionada com a perspectiva da imagem, que nos permite maior envolvimento com os actores e maior subjectividade no caso da perspectiva frontal; maior distanciamento e menor importância dos actores na perspectiva oblíqua, podendo haver no entanto maior objectividade quando o leitor pode observar a imagem segundo diversos pontos de vista.
- a modalidade, que codifica o nível de realidade que uma imagem representa, tendo em conta os aspectos de saturação, diferenciação e modulação das cores; contextualização, representação, profundidade, iluminação e brilho.
c) Um último significante da mensagem comunicativa segundo Kress e van Leeuwen diz respeito à organização dos participantes representados na imagem e denomina-se por composição. A localização dos actores à esquerda da imagem traduz destaque e novidade; colocados na parte inferior são vistos como próximos do receptor e colocados na parte superior são interpretados com o sonho que se pretende alcançar. O tamanho relativos dos objectos e a existências de linhas podem sugerir ligação ou rupturas entre diferentes realidades.

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